Mais de 1.600 pessoas aguardam por transplantes no Ceará.

 Mais de 1.600 pessoas aguardam por transplantes no Ceará.

De acordo com dados da Central de Transplantes da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), atualmente há mais de 1.600 pessoas aguardando na fila por transplantes de órgãos no Ceará. Apesar dos esforços do Poder Público no desenvolvimento de campanhas para incentivar a doação, a recusa familiar continua sendo um obstáculo significativo a ser enfrentado.

No primeiro semestre deste ano, por exemplo, o número de notificações sobre potenciais doadores dentro do território cearense ultrapassou os 300, porém, apenas 35% destas foram efetivadas. Em 45% dos casos, a família não autorizou a realização do procedimento e, em 24%, o motivo foi contraindicação médica. “No Brasil, por lei, a doação é chamada ‘doação consentida’ e precisa ser autorizada pelo seu responsável legal. Por isso, é importante comunicar aos parentes o desejo de doar. Porque após o falecimento, quem decide são os familiares responsáveis legais, de primeiro e segundo grau”, aconselha Bruna Bandeira, enfermeira do Hospital Regional do Cariri (HRC), que integra a Organização de Procura de Órgãos e Tecidos (OPO) da unidade da Sesa na região.

A enfermeira conta que, quando há recusa, geralmente é porque a família deseja preservar a integridade do corpo do ente querido. “Eles dizem muito que irão optar por não doar, principalmente os pais, porque querem que o filho volte da forma que veio”, relata. Contudo, Bandeira afirma que, frequentemente, há ainda uma certa dificuldade em compreender a morte encefálica, uma vez que o coração ainda está batendo, por meio da tecnologia, dos equipamentos e da medicação. “Isso torna difícil a compreensão da morte. Eles não conseguem materializar a morte do seu ente querido no leito com o coração batendo. Então, por muitas vezes, eles têm dificuldade de entender e confiar no diagnóstico”, explica.

O coordenador de enfermagem das Unidades de Terapia Intensiva (UTI) 1 e 2 do Hospital Regional Norte (HRN), Diego Pinheiro, lembra que a doação de órgãos pode ser a única oportunidade de recomeço de vida de alguém. “Todas as religiões são a favor. O tempo de espera para quem doa é mínimo se comparado ao de quem está na fila para receber um órgão ou tecido e não muda em nada o aspecto do corpo do doador”, detalha.

Durante o último mês, unidades hospitalares de todo o território nacional se engajaram na campanha de “Setembro Verde” para estimular a doação de órgãos. Bruna Bandeira conta que, durante a entrevista com as famílias, ela tenta lembrar que a ação, mesmo inserida dentro de um contexto doloroso, pode ajudar alguém que também está sofrendo. “Eu sempre digo que em algum lugar do país, pode ter uma mãe, um filho, uma esposa sofrendo a mesma dor. E a doação de órgãos, vem como uma possibilidade de salvar e mudar esse desfecho. Sempre enfatizo também a irreversibilidade da morte encefálica e que, depois dela, há a possibilidade da doação de órgãos. Uma maneira de ficar um pouquinho do seu ente querido que partiu, dando o significado ou chance de viver a outra pessoa”, relata.

A enfermeira ressalta que é fundamental detalhar a transparência das etapas do diagnóstico de morte encefálica para auxiliar no entendimento dos familiares. “O acolhimento também é essencial. Se colocar do lado da família, mostrar para eles que não estamos lá pelo interesse na doação, mas para apoiar e acolher”, afirma.

Ceará

Até o último dia 26 de setembro, 1.228 transplantes foram realizados no Ceará. A Central de Transplantes do Estado funciona 24 horas por dia, sete dias por semana. É válido ressaltar ainda, que o território cearense se mostra muito evidente no tocante aos procedimentos envolvendo córneas. Dados da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), por exemplo, indicam que o Ceará ocupa a segunda posição do ranking nacional. Em 2023, foram contabilizados 786 transplantes de córnea no Estado. Outros números que chamam a atenção são os que se referem às cirurgias de fígado, que já somam 157, e rins, que contabilizam 147.

Fonte: O Estado.

J Cabral

http://reporterjcabral.com.br/

J Cabral Repórter correspondente das noticias do Ceará, da TV Sol Talismã de Salgueiro-PE e Rádios da Região.

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